No hospital
Dizia nunca esquecerei, e hoje lembro-me. Rostos tornados desconhecidos,
desfigurados na minha certeza de perder-te, no meu desespero desespero. Como
no hospital, as pessoas passavam por mim como se a dor que
me enchia não fosse oceânica e não as abarcasse também.
No quarto, numa cama qualquer que não a tua, o teu corpo, pai.
Talvez distante, preso num olhar entreaberto e amarelado, respiravas ofegante.
O ar com que lutavas, lutavas sempre, gritava o
seu caminho rouco.
Pousei-te as mãos nos ombros fracos. Toda a força te esmorecera nos braços, na pele ainda pele viva. E menti-te. Disse aquilo em que não acreditava. Ao olhar amarelo,
ofegante, disse que tudo serias e seríamos de novo. E menti-te. Disse vamos
voltar para casa, pai vá, agora está fraco mas depois, pai, depois, pai. Menti-te. E tu, sincero, a
dizeres apenas um olhar suplicante, um olhar para eu nunca mais esquecer. Pai.
domingo, janeiro 24, 2010
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